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Atenção para os recém-chegados: saiba os cuidados para o pet adotado

O pós-adoção é um período decisivo para a adaptação e a saúde dos animais. Cuidar corretamente, oferecer rotina e atenção fazem toda a diferença para transformar a adoção em uma experiência duradoura e feliz tanto para o pet quanto para a família

No abrigo, a adoção é auxiliada de perto e cuidados são ofertados para que cada animal se adapte aos tutores -  (crédito: Júlia Sirqueira/CB/D.A Press)
No abrigo, a adoção é auxiliada de perto e cuidados são ofertados para que cada animal se adapte aos tutores - (crédito: Júlia Sirqueira/CB/D.A Press)

Adotar um animal é um ato de amor, mas exige responsabilidade e dedicação. Segundo levantamentos recentes da Opinion Box e da Golden, cerca de 80% dos animais de estimação no Brasil são adotados. Outra pesquisa, a Radar Pet, indica que 33% dos cães e 59% dos gatos nos lares brasileiros foram adotados, evidenciando que a adoção é cada vez mais comum entre os brasileiros e significa um compromisso.

No Abrigo Flora e Fauna, cada adoção é acompanhada de perto. "Nosso objetivo não é apenas entregar um animal, mas garantir que ele tenha uma família. Conversamos com o adotante por pelo menos uma hora para avaliar se está preparado para esse compromisso", explica Wellington Fabiano, vice-presidente do abrigo. Mesmo com acompanhamento, algumas devoluções acontecem, principalmente nos primeiros meses. E cada retorno significa um trauma para o animal.

O caso da cadelinha Catarina ilustra bem os desafios do pós-adoção. Resgatada após um atropelamento, ela chegou ao abrigo com fraturas graves nas patas e na coluna, em estado crítico. "No domingo do resgate, já a levamos para a clínica. Ela estava desesperada, pedindo socorro, e precisou de duas cirurgias para recuperar a mobilidade", lembra Larissa Carmona, voluntária do abrigo.

 

  • Catariana se dá muito bem com os outros pets da famí­lia
    Catariana se dá muito bem com os outros pets da famí­lia Arquivo pessoal
  • Após meses de tratamento, Catarina já consegue ficar em pé e correr
    Após meses de tratamento, Catarina já consegue ficar em pé e correr Arquivo pessoal

Nos primeiros dias em casa, Catarina precisou usar fralda e passar por sessões de fisioterapia. "Cada conquista era comemorada: primeiro ficar em pé, depois andar com apoio e, finalmente, correr e brincar. Todo o processo exigiu muita paciência, dedicação e amor", conta Larissa. A mãe da voluntária reforça o comprometimento da família: "Quando vimos a situação dela, sabíamos que não poderia voltar ao abrigo. Foi amor à primeira vista e dedicação total".

Hoje, quatro meses depois, Catarina caminha, corre e interage com outros animais da casa, mostrando que a atenção e o cuidado no início fazem toda a diferença na recuperação e adaptação de um pet.

Larissa lembra que o processo nem sempre foi fácil e houve momentos de cansaço. "Em alguns dias, eu chorava com ela, achando que ela nunca mais voltaria a andar. Mas cada vez que Catarina levantava um pouco mais a patinha, aquilo renovava as nossas forças. A adoção não é só receber amor: é também escolher amar, mesmo quando é difícil", emociona-se. Para ela, Catarina não foi apenas regatada — ela resgatou toda a família. 

Cuidados e adaptação

O veterinário Edilberto Martinez, do Dr. Martinez Centro Integrado de Comportamento Animal, reforça: "Mesmo que o animal aparente estar saudável, é fundamental levá-lo ao veterinário logo após a adoção. Avaliamos estado geral, fase reprodutiva, idade aproximada, fazemos vermifugação, controle de parasitas e iniciamos o protocolo vacinal adequado, além de exames de rotina", detalha.

Segundo o especialista, muitos tutores acreditam que o amor é suficiente para garantir uma adaptação tranquila, mas a realidade exige preparo. "O afeto é essencial, mas ele sozinho não resolve problemas de saúde, comportamento ou medo. Animais resgatados podem carregar traumas e, sem orientação correta, o tutor pode interpretar sinais de insegurança como 'birra' ou 'ingratidão'. Nosso papel, como veterinário, é traduzir o que o animal sente e ensinar a família a acolhê-lo com responsabilidade", reforça Martinez.

Nos primeiros dias, o animal deve ter um ambiente limpo, tranquilo e seguro, com cama confortável e espaço para necessidades fisiológicas. A alimentação deve ser de qualidade e a água sempre fresca. "Permita que explorem o espaço no próprio ritmo, oferecendo petiscos e carinho sem forçar contato. Um 'porto-seguro' ajuda a reduzir o estresse", orienta o veterinário.

Adaptação com outros pets

Quando há outros animais em casa, a introdução deve ser gradual e supervisionada. Fernanda Araújo, professora, conta que ao adotar uma segunda gata manteve as felinas separadas inicialmente, permitindo aproximação aos poucos. "Foi um processo de dois meses, mas hoje convivem juntas", explica.

Fernanda precisou deixar os felinos separados pós adoção
Fernanda precisou deixar os felinos separados pós-adoção (foto: Arquivo pessoal )

Em lares sem outros pets, a atenção deve ser redobrada. Animais recém-chegados precisam de companhia e estímulo, e não devem ficar sozinhos por longos períodos nos primeiros dias. Brincadeiras, passeios e reforço positivo ajudam a criar confiança e fortalecer o vínculo com a nova família.

Dicas para um pós-adoção saudável

Segundo Edilberto Martinez, os principais erros pós-adoção incluem forçar contato, expor o animal a estímulos excessivos e aplicar punições físicas. “Respeito, paciência e afeto são pilares fundamentais. Investir em cuidados adequados fortalece o vínculo e garante bem-estar físico e emocional ao longo da vida do animal”, conclui o veterinário. Para prevenir problemas:

  • Respeite o tempo do animal

  • Estabeleça rotina de alimentação, passeios e descanso

  • Invista em reforço positivo e enriquecimento ambiental

  • Ofereça atenção e carinho sem pressão

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

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postado em 05/10/2025 06:00
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