
A taxação de 25% sobre aço e alumínio, imposta pelos Estados Unidos às exportações, deve impactar a economia brasileira, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Pouco antes da assinatura do decreto pelo presidente norte-americano, Donald Trump, em Washington, a entidade mineira se posicionou a respeito da medida.
"Caso essa medida seja efetivamente implementada, trará impactos negativos, considerando que as exportações desses produtos para o mercado norte-americano são expressivas para a economia brasileira", sustentou a Fiemg.
A entidade ressaltou, no entanto, que "por se tratar de uma taxação aplicada a todas as economias, e não exclusivamente ao Brasil, o cenário colocaria os países em condições de concorrência mais equilibradas".
Minas Gerais é o principal produtor de aço bruto no Brasil e responde por cerca de 30% de toda a produção nacional, de acordo com o Instituto Aço Brasil.
O presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, acredita, no entanto, que o Brasil não será prejudicado de forma significativa. "Assim como ocorreu no primeiro mandato do ex-presidente Donald Trump, entendemos que, mesmo com a adoção de sanções, o Brasil poderá obter algumas concessões", avaliou.
Segundo ele, "grande parte das nossas exportações são de produtos semielaborados, que passam por processos de industrialização em empresas norte-americanas, muitas delas coligadas a companhias brasileiras". "Isso pode ser um fator favorável para que o Brasil não saia machucado dessa situação."
A nova tarifa deve atingir diretamente as principais siderúrgicas instaladas no Brasil, a exemplo de ArcelorMittal, Ternium e CSN. O impacto estimado nas exportações brasileiras de aço para os EUA pode chegar a US$ 6 bilhões.
Na avaliação do professor de ciências econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) Hugo Garbe, as consequências podem ser significativas para o Brasil. "O setor siderúrgico brasileiro exporta uma parte relevante de sua produção para os Estados Unidos, e a imposição de tarifas pode reduzir essa demanda", frisou. "Com menos exportações, empresas do setor podem enfrentar dificuldades financeiras, afetando empregos e investimentos. Além disso, se o Brasil decidir retaliar com tarifas sobre produtos americanos, pode haver impactos em outras cadeias produtivas que dependem do comércio bilateral."
No caso dos EUA, o professor acredita em efeito colateral: a alta nos preços de insumos essenciais para diversas indústrias. "Setores que dependem de aço e alumínio importados, como o automotivo e o de construção, podem ver seus custos aumentarem, o que deve se refletir em preços mais altos para os consumidores", destacou. "Além disso, se outras indústrias forem prejudicadas, a medida pode gerar perdas de empregos em áreas que dependem desses materiais."
- Trump assina decreto que institui tarifa de 25% sobre aço e alumínio importado
- Tarifaço de Donald Trump mexe com os mercados globais
- Após China revidar tarifas dos EUA, há como evitar uma guerra comercial?
Mercados
Nas bolsas de valores, a expectativa é de que as ações de mineradoras que exportam uma grande quantidade de aço e alumínio para os EUA sejam as mais afetadas. O analista de mercado e CEO da iHub Investimentos, Paulo Cunha, explicou, porém, que há casos de empresas que podem se beneficiar, como a Gerdau, que possui uma siderúrgica dentro dos EUA e não sofreria com as tarifas.
Apesar disso, a queda nas exportações pode afetar a reserva cambial do país. "Se eu exporto menos, eu tenho menos entrada de dólar, e o dólar, tecnicamente, olhando só para essa medida, deveria subir", disse.
Para o economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, a medida deve ter um impacto limitado na atividade econômica. "Agentes de mercado seguem buscando precificar a extensão na qual as tarifas são mais uma estratégia do governo americano para conduzir a política comercial com seus parceiros, se funcionarão como moeda de troca nas negociações que o presidente utilizará para obter concessões ou se tendem a ser aplicadas em sua totalidade, o que parece menos provável a essa altura", comentou.
Uma nova guerra comercial
Quem exporta aço para os EUA?
» A produção mundial de aço bruto alcançou 1,89 bilhão de toneladas em 2023, das quais mais da metade (1,02 bilhão de toneladas) foram produzidas pela China, o maior fabricante mundial, de acordo com os últimos números disponíveis da World Steel.
» Os Estados Unidos, muito atrás, com 82 milhões de toneladas, importaram 26,4 milhões de toneladas desse metal em 2023, sendo, assim, o segundo maior importador mundial, atrás da União Europeia.
» O país se abastece, principalmente, do Canadá, de onde importou 5,95 milhões de toneladas em 2024, segundo a administração de comércio dos Estados Unidos.
» Em seguida, estão Brasil, União Europeia e México, com 4,08, 3,89 e 3,19 milhões de toneladas, respectivamente, à frente de países como Coreia do Sul, Vietnã, Japão, Taiwan e China.
Por que Trump fala de concorrência desleal?
» Os preços mundiais do aço caíram consideravelmente no último ano devido ao excesso de produção.
» De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o excedente mundial de aço varia entre 500 e 560 milhões de toneladas. "A maioria vem da China, que inunda os mercados globais", disse um fabricante europeu de aço sob condição do anonimato.
» A economia do aço, cíclica há 50 anos, enfrenta agora um problema "estrutural" de excesso de oferta, observam especialistas.
» A China reduziu drasticamente seu consumo, em parte devido à paralisação de seus imensos projetos de construção. Além disso, suspeita-se de que o gigante asiático subsidie a sua produção de forma mais ou menos direta, o que reduz os preços, pressionando os atores tradicionais europeus e americanos.
» A US Steel, que passa por um momento difícil, foi objeto de uma tentativa de aquisição por parte da Nippon Steel, bloqueada pelo então presidente dos EUA, Joe Biden, e depois por Trump. A empresa alemã ThyssenKrupp anunciou, por sua vez, o corte de milhares de empregos.
Por que o aço continua a ser estratégico na era digital?
» O aço, que esteve no centro da revolução industrial iniciada na Europa no século XIX, continua a ser a base de muitos outros setores da indústria tradicional.
» Em 2023, 52% do aço produzido ainda era destinado à construção, enquanto a indústria automobilística absorvia 12%.
» As indústrias armamentista e ferroviária também estão entre os grandes clientes do aço, essencial, ainda, para a transição energética (turbinas eólicas) e digital (centros de dados).
» No entanto, seu processo de fabricação, que usa carvão para retirar o oxigênio do minério de ferro, torna esse o setor industrial que mais emite gases de efeito estufa.
» O setor iniciou uma transição, e na Europa estão previstos investimentos maciços para a descarbonização. Porém eles estão paralisados devido ao complicado contexto atual.
Saiba Mais