
Em meio à alta no preço dos alimentos, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, afirmou que a queda do dólar e uma safra recorde ajudarão na redução dos valores de produtos. Ele também enfatizou que o Brasil vai bem na economia. "Mas tem questões a serem resolvidas. Uma delas é o tema dos alimentos", disse, em entrevista às jornalistas Denise Rothenburg e Ana Maria Campos, no programa CB.Poder, parceria entre o Correio e a TV Brasília:
O que o governo pode fazer em relação ao preço dos alimentos?
Tivemos um aumento do dólar pela expectativa de Trump ganhar as eleições. Das eleições até a vitória dele, o dólar estava a R$ 5,70 e foi a R$ 6,30. Então os produtos que estão baseados no dólar, que são as carnes, o açúcar, o café, a laranja, os derivados de soja, todos esses aumentaram. Agora, como o dólar saiu de R$ 6,30 e voltou, já está em R$ 5,79, a nossa expectativa é de que esses produtos baixem de preço. Não houve inflação em produtos in natura. Também teremos uma safra agrícola recorde. Estamos focando os créditos para a cesta básica. O Pronaf já foi assim e, em diálogo no governo, se estuda de o Pronamp também ser. E também o chamado ciclo do boi, quando você tem um excesso de abates, acabou. Então todas essas notícias ensaiam um horizonte de diminuição do preço dos alimentos.
O presidente Lula está com a popularidade abaixo do que era esperado. Como resolver isso?
O governo vai bem. Por exemplo: temos o menor índice de desemprego da série histórica do Brasil, a maior oferta de emprego, a maior distribuição de renda. Era previsto um crescimento de 0,9%, e foi de 3,3% — e um crescimento sadio. O Brasil vai bem na economia, mas tem questões para serem resolvidas. Uma delas é o tema dos alimentos. Esse é um tema que precisa acertar. E acertado, ele vai ajudar muito na popularidade. Mas o presidente Lula tem uma alta popularidade, não é baixa.
Mas o governo tem que fazer o seu dever de casa para ajudar a baixar o preço dos alimentos…
Está fazendo. O dólar baixou. Veja, a laranja mesmo, que foi o tema, é um produto de exportação. O dólar a R$ 6,30, a laranja vai ser vendida aqui no Brasil a R$ 1, cada, como aconteceu. Agora, com o dólar baixando, certamente você terá uma diminuição no preço desses alimentos. Quando o dólar subiu, vira aquele negócio, "o Lula é o responsável porque o dólar subiu". Aí, o dólar baixou, ninguém fala que ele ajudou a baixar. Ele ajudou a baixar, e o Fernando Haddad ajudou. E presidente do Banco Central, o Galípolo, também.
O senhor considera que a gestão do presidente Trump afeta o agro aqui no Brasil?
O agro, não. Vamos ter um problema maior da economia. Mas o agro, não, porque onde é que eles vão substituir os produtos, a soja, o milho, o algodão? Onde os Estados Unidos vão comprar? Eles já estão estabelecendo taxas para outros países. Assim, eu acho que o agro não perde. Agora, ele começou a mexer com alguns produtos que a gente tem de olhar com cuidado. Trump é aquele aluno do fundão, sabe? Que fica jogando papel na cabeça dos outros, atrapalhando a aula. A cada dia, ele cria problemas com um país.
As declarações do presidente da Câmara, Hugo Motta, sobre o 8 de Janeiro, pegaram o governo de surpresa?
Eu fiquei surpreso, porque eu achei que ele já tinha entendido que essa anistia não ia dar certo. Não sei se ele está jogando para a torcida, porque acho que não passa no Parlamento. Eu acho um erro ele se envolver com isso. E eu pensava que era esse compromisso de campanha dele de não deixar tramitar esse pedido.
A tendência, pelas declarações de Hugo Motta, é de que esse assunto acabe entrando em pauta…
Hugo Motta é uma liderança jovem, que pode ter um futuro brilhante. Ele pode ser um futuro governador da Paraíba, em algum momento, senador da República. Agora, se ele começar a ir por aí, ele vai comprometer a sua própria trajetória política.
Como assim?
Primeiro, que ele é nordestino. E a Paraíba é um estado lulista. Então, se ele quiser começar dando anistia para criminosos, acho que vai ter problema, não só com o seu próprio eleitorado, ele vai ter problema dentro do Congresso e com as classes médias brasileiras que se pautam pela legalidade.
Confira a íntegra da entrevista
*Estagiário sob a supervisão de Cida Barbosa
Saiba Mais