
Na última sexta-feira, 15 de agosto, completei 38 anos de Brasília. São quase quatro décadas de uma certa devoção, devo dizer. Cheguei na época que considero a mais linda desta cidade, em plena seca. Meu olhar sempre foi inclinado à beleza da contradição. Aqui, tornou-se exponencial. Uma terra sertão, seca; um céu que é mar, imenso; um verde que brota em flor em meio à poeira vermelha; um nascer e um pôr do sol que roubam o ar.
Jamais vou esquecer o dia que cheguei, porque senti que Brasília era meu novo lugar no mundo. E assim foi. Assim é. Nunca pensei em sair, mesmo amando meu Pernambuco, meu Nordeste, de onde vim e que guardo no coração. Desde sempre, Brasília me acolheu. Sobre a aridez que tanto falam, não senti. Se houve solidão nos primeiros tempos, ela foi preenchida por convites dos colegas de redação (Malu Sigmaringa, Cláudio Ferreira, Ana Paula Macedo, Valéria Velasco, Massimo Manzolillo, Wellington Fonseca e Yeda), que abriam suas casas e suas vidas para esta forasteira porque, à época, todos eram migrantes.
A capital me convidou todos os dias a ficar. Serviu-me de chances em série, porque, de bandeja, entregou-me novas oportunidades no jornalismo, com todas as suas facetas e possibilidades. Em redações de jornais, fiz carreira e muitos amigos. Virei noites. Trabalhei grávida até quase o momento de parir. Tornei-me avó. Tudo isso entre incontáveis reuniões de pautas, fechamentos e plantões. Vivi tudo isso junto e misturado.
Hoje, quando dou longas caminhadas pelas quadras, quando pego ônibus, quando fotografo ipês, quando remo no Lago Paranoá ou corro nas maratonas e corridas de rua, quando vou ao teatro, quando vou aos cafés e recebo tantas pessoas incríveis na redação do Correio, eu sinto que vivo Brasília de muitas formas. Esses dias, recebi os pais e também técnicos do medalhista olímpico Caio Bonfim, trazidos pelo colega Marcos Paulo Lima. Pensem numa conversa leve e divertida, capaz de jogar pela janela as tensões. E agradeço por isso.
Acredito que a melhor forma de agradecer é viver com alguma intensidade as coisas mais simples. Não criamos raízes vivendo aquilo que é aparentemente extraordinário, os picos de euforia. Quando arriamos as malas em algum lugar, ficamos pelo prazer cotidiano, pelos pequenos e felizes momentos, pelos amigos e laços que construímos. É isso que nos convida a querer estar sempre. São 38 anos de uma vida em conjunto. Brasília foi e é excelente companheira. E o nosso Correio Braziliense, o irmão mais velho da capital, onde estou há 32 anos, aqui segue firme e forte.