Esporte

A (re)nacionalização da Seleção

Há uma tese segundo a qual é impossível conquistar uma Copa do Mundo com 100% dos jogadores empregados na própria liga nacional

ESTEVÃO - Em seu melhor estilo, desencantou no segundo tempo. Marcou um golaço no início do segundo tempo e aproveitou cruzamento de Piquerez para confirmar a vitória na reta fina da partida. Mostrou crescimento e foi importante para a vitória do Palmeiras com duas bolas na rede. NOTA 8,0 - Foto: Fabio Menotti/Palmeiras -  (crédito: Fabio Menotti/Palmeiras)
ESTEVÃO - Em seu melhor estilo, desencantou no segundo tempo. Marcou um golaço no início do segundo tempo e aproveitou cruzamento de Piquerez para confirmar a vitória na reta fina da partida. Mostrou crescimento e foi importante para a vitória do Palmeiras com duas bolas na rede. NOTA 8,0 - Foto: Fabio Menotti/Palmeiras - (crédito: Fabio Menotti/Palmeiras)

Weverton; Wesley, Fabrício Bruno, Léo Ortiz e Arana; Marlon Freitas, Gerson e Oscar; Estêvão, Yuri Alberto e Neymar. Esse time 100% e treinado seria ruim? Montei a escalação aleatória para constatar uma tendência: estamos diante de uma possível (re)nacionalização da Seleção. Com raras exceções, os melhores jogadores do Brasil estão empregados em clubes do nosso país. E olha que descartei o centroavante lesionado Pedro.

A convocação do técnico Dorival Júnior, em 7 de março, para os duelos com a Colômbia e a Argentina pelas Eliminatórias, pode ter mais jogadores ativos em solo verde-amarelo do que no exterior. De fora, Raphinha, Vinicius Junior e Rodrygo são indispensáveis. Lucas Paquetá, Bruno Guimarães, André, Richarlison, Endrick, Savinho, Martinelli, Luiz Henrique, Marquinhos e Gabriel Magalhães, acessórios. Os goleiros Alisson, Ederson e Bento têm vagas cativas.

Há uma tese segundo a qual é impossível conquistar uma Copa do Mundo com 100% dos jogadores empregados na própria liga nacional. O tetracampeonato da Itália, em 2006, rebate os argumentos. O técnico Marcello Lippi bordou a quarta estrela no escudo com 23 atletas vinculados a times da Serie A, como é chamado o principal campeonato do país. Não havia exceção.

Em 2010, a Espanha, liderada pelo treinador Vicente del Bosque, ostentava 20 jogadores inscritos nas equipes de LaLiga — e três do Campeonato Inglês: Cesc Fàbregas (Arsenal), além de Fernando Torres e Pep Reina, ambos do Liverpool à época. A Alemanha tinha seis "estrangeiros" no título de 2014.

Campeã em 2018, a França lembrava o elenco do Brasil na conquista do penta. Didier Deschamps contava com 11 jogadores da Ligue 1 e 12 convocados de fora. Em 2002, Felipão pinçou 13 nacionais e 10 "importados". Parreira quase equilibrou o grupo protagonista do tetra: 10 x 12. Tite recrutou só três do país em 2022.

Atual dona do caneco, a Argentina foi radical em 2022 com 25 convocados de fora e só um da liga nacional: o goleiro reserva Franco Armani (River Plate).

O Brasil não inicia jogo da Copa do Mundo com escalação 100% nacional desde a decisão do terceiro lugar contra a Itália, em 1978. Todos os convocados por Cláudio Coutinho para aquele Mundial atuavam no país. Em 1982, Falcão (Roma) e Dirceu (Atlético de Madrid) eram os forasteiros de Telê Santana. Edinho (Udinese) e Júnior (Torino), as exceções na campanha de 1986.

Não há fórmula para montar elenco para a Copa. Falei da Itália campeã em 2006 com 100% de jogadores caseiros, e da Argentina com 25 estrangeiros em 2022. É necessário entender o contexto. A maioria dos melhores jogadores do país atuará no Brasileirão 2025. Dorival Júnior precisa ter a sensibilidade de juntar a fome de quem está aqui, com a vontade de comer de quem está no exterior, e formar uma Seleção capaz de cumprir a promessa dele em 2024: "Nós estaremos na decisão da Copa do Mundo. Podem me cobrar".

Marcos Paulo Lima
MP
postado em 08/02/2025 06:00
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