Igreja Católica

Papa aparece de surpresa, envia mensagem aos doentes e mostra melhora

Papa Francisco faz aparição durante celebração dedicada aos enfermos, na Praça de São Pedro, no Vaticano, e emociona 20 mil fiéis. Na homilia escrita e lida por arcebispo, ele compara a fragilidade a uma escola. Coautor da autobiografia do pontífice fala ao Correio

Com cânulas de oxigênio presas ao nariz, o pontífice gesticula para peregrinos, na Cidade do Vaticano  -  (crédito: Alberto Pizzoli/AFP)
Com cânulas de oxigênio presas ao nariz, o pontífice gesticula para peregrinos, na Cidade do Vaticano - (crédito: Alberto Pizzoli/AFP)

Domingo (6/4) de manhã, 20 mil fiéis reunidos na Praça de São Pedro, na Cidade do Vaticano, para o Jubileu dos Enfermos e do Mundo da Saúde. Não haveria ocasião mais propícia para uma surpresa. A apenas duas semanas da Páscoa, o papa Francisco, 88 anos, fez uma breve aparição — a primeira desde que recebeu alta do hospital Gemelli, em 23 de março — e saudou os peregrinos, entre eles, pacientes, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, profissionais da saúde e voluntários que viajaram de 90 países para a celebração.

Depois de ser internado por 37 dias, acometido por uma pneumonia dupla, e ficar à beira da morte, o pontífice argentino surgiu na praça depois de missa celebrada pelo arcebispo Rino Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, que leu a homilia escrita por Francisco. "Irmãos e irmãs, a poucos metros de nós, o papa Francisco, de seu quarto na Casa Santa Marta, está perto de nós e participa, como tantos doentes, tantas pessoas frágeis, desta Santa Eucaristia pela televisão. Sinto-me feliz e honrado por oferecer minha voz para ler a homilia que ele preparou", disse Fisichella. 

O pontífice chegou à Praça de São Pedro em uma cadeira de rodas e com cânulas de oxigênio presas ao nariz. Pouco antes de se unir aos fiéis, Francisco recebeu o sacramento da reconciliação, na Basílica de São Pedro, orou por alguns minutos e atravessou a Porta Santa, de acordo com a imprensa do Vaticano. Enquanto o líder de 1,4 bilhão de católicos era levado entre os fiéis até o altar, os peregrinos gritavam: "Longa vida ao papa!". Francisco rapidamente se dirigiu aos fiéis: "Bom domingo a todos! Muito obrigado!". Diante de milhares de câmeras e celulares, abençoou os peregrinos e fez questao de cumprimentar, um a um, algumas pessoas atrás do altar instalado no local.

Francisco abençoa os fiéis, incluindo pacientes, médicos, enfermeiros e voluntários da saúde
Francisco abençoa os fiéis, incluindo pacientes, médicos, enfermeiros e voluntários da saúde (foto: Imprensa do Vaticano/AFP)

Na homilia redigida pelo papa e lida por Fisichella, ele diz que "não há dúvida de que a doença é uma das provas mais difíceis e duras da vida, durante a qual tocamos com a mão o quanto somos frágeis". O jesuíta argentino também se dirigiu aos "queridos irmãos e irmãs doentes". "Neste momento da minha vida, estou a partilhar muito: a experiência da enfermidade, de me sentir frágil, de depender dos outros em tantas coisas, de precisar de apoio", escreveu. "Nem sempre é fácil, mas é uma escola, na qual aprendemos todos os dias a amar e a deixarmo-nos amar, sem exigir nem recusar, sem lamentar nem desesperar, agradecidos a Deus e aos irmãos pelo bem que recebemos, abertos e confiantes no que ainda está para vir." De acordo com Francisco, na doença, se pode renovar e fortalecer a fé.  

Atenção e cuidado

Em entrevista ao Correio, Fabio Marchese Ragona, coautor da autobiografia do papa Francisco, intitulada Vida, disse acreditar que Francisco escolheu precisamente a missa dedicada aos doentes para, na condição de uma pessoa enferma, estar presente. "Ele quis mostrar para o mundo sua fraqueza e sua fragilidade. Antes da missa, o pontífice realizou a peregrinação jubilar dos doentes, com a confissão e a travessia da Santa Porta da Basílica de São Pedro, como se fosse um peregrino", afirmou. "Doente entre os doentes, o papa quis, neste momento, levar a carícia de Deus a todos aqueles que precisam de cuidados. Ao mesmo tempo, com sua presença, ele pretendia enviar uma forte mensagem sobre o fato de que deve haver atenção e cuidado para aqueles que necessitam de atenção e de amor."

 

Autor de dois livros-entrevistas com Francisco, Domenico Agasso — vaticanista do jornal italiano Il Stampa — admitiu ao Correio que a aparição do papa foi um sinal claro de sua determinação e proximidade para com os fiéis. "Mesmo durante a sua convalescença, ele quis estar presente: a sua presença fala mais alto que as palavras. Aos peregrinos e aos fiéis quis dizer: 'Estou convosco'", explicou. Para Agasso, trata-se de uma mensagem de resiliência, de esperança concreta. "O papa, no seu momento de fraqueza, aproxima-se ainda mais, e continua olhando para frente, com confiança", acrescentou Agasso. 

O jornalista do Il Stampa concorda com Ragona sobre a capacidade de comando de Francisco. "O papa continua a guiar a Igreja com clareza e tenacidade. Francisco informou que assinou e entregou a renúncia ao pontificado, em caso de impedimentos graves e permanentes. Ao mesmo tempo, disse que considerava o ministério do papa 'ad vitam' ('para a vida', em latim)", comentou Agasso.

DUAS PERGUNTAS PARA...

FABIO MARCHESE RAGONA, coautor da autobiografia do papa Francisco intitulada Vida

Que mensagem o papa Francisco quis enviar para os fiéis com a aparição surpresa?

Acho que foi um gesto muito bonito do papa Francisco, porque ele compreendeu que as pessoas precisam de sua presença física. Apesar do sofrimento causado pela doença e dos muitos riscos de um retorno da pneumonia, ele quis estar presente na praça. É uma importante mensagem porque o papa continua na linha do "pastor" que deve sentir o cheiro das ovelhas. Ele não queria deixar seu rebanho sozinho e, por isso, fez essa surpresa para todos. 

Fabio Marchese Ragona, coautor da autobiografia do papa Francisco intitulada Vida
FABIO MARCHESE RAGONA, coautor da autobiografia do papa Francisco intitulada Vida (foto: Arquivo pessoal )

O senhor acredita que exista uma pressão crescente, dentro da Igreja, para que ele renuncie?

Penso que a pressão pela renúncia é inútil, porque Francisco decide de forma autônoma e também porque, como diz o código de direito canônico, a renúncia do papa deve ser livre e não imposta, para ser válida. Neste momento, o papa não tem absolutamente intenção alguma de renunciar. Ele disse que o pontificado é para a vida e que a Igreja se governa com a cabeça, não com as pernas. Francisco está muito lúcido e, mesmo do hospital, continuou a governar a Igreja. Levará tempo para sua recuperação, mas acho que ele continuará no caminho que iniciou 12 anos atrás. (RC)

EU ACHO...

Domenico Agasso, vaticanista do jornal italiano Il Stampa
Domenico Agasso, vaticanista do jornal italiano Il Stampa e autor de dois livros-entrevistas com o papa Francisco (foto: Arquivo pessoal )

"Mais uma vez, o papa se colocou ao lado daqueles que sofrem. É um gesto altamente simbólico: ele mesmo, marcado pela doença, reza por aqueles que estão na mesma condição. Há uma profunda identificação com o frágil, que se torna testemunho. Os peregrinos percebem isso e, ao ver o pontífice chegar, inesperadamente, à Praça de São Pedro. Mesmo que sua voz ainda esteja fraca, eles respiram aliviados: o pontífice está ali, ele luta, sorri, transmite determinação, olha para frente. Essa cena fortalece a fé e o carinho do povo por ele."

Domenico Agasso, vaticanista do jornal italiano Il Stampa e autor de dois livros-entrevistas com o papa Francisco 

  • Francisco abençoa os fiéis, incluindo pacientes, médicos, enfermeiros e voluntários da saúde
    Francisco abençoa os fiéis, incluindo pacientes, médicos, enfermeiros e voluntários da saúde Foto: Imprensa do Vaticano/AFP
  • O pontifice é aplaudido ao chegar, de cadeira de rodas, na Praça de São Pedro
    O pontifice é aplaudido ao chegar, de cadeira de rodas, na Praça de São Pedro Foto: Alberto Pizzoli/AFP
  • Auxiliado pelo enfermeiro, Francisco atravessa a Santa Porta da Basílica de São Pedro (E), é recebido com entusiasmo pelos fiéis (C) e abençoa os 20 mil peregrinos, incluindo pacientes e profissionais da saúde (D)
    Auxiliado pelo enfermeiro, Francisco atravessa a Santa Porta da Basílica de São Pedro (E), é recebido com entusiasmo pelos fiéis (C) e abençoa os 20 mil peregrinos, incluindo pacientes e profissionais da saúde (D) Foto: Imprensa do Vaticano/AFP
  • Fabio Marchese Ragona, coautor da autobiografia do papa Francisco intitulada Vida
    FABIO MARCHESE RAGONA, coautor da autobiografia do papa Francisco intitulada Vida Foto: Arquivo pessoal
  • Domenico Agasso, vaticanista do jornal italiano Il Stampa
    Domenico Agasso, vaticanista do jornal italiano Il Stampa e autor de dois livros-entrevistas com o papa Francisco Foto: Arquivo pessoal
postado em 07/04/2025 06:00
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