ORIENTE MÉDIO

Após um ano, corredor que dividia Faixa de Gaza é reaberto

Apesar da liberação de Netzarim, uma solução definitiva para o conflito parece se distanciar com a vontade de Israel e Estados Unidos de colocar o território de Gaza sob o controle de Trump e expulsar os palestinos para países vizinhos

Após a abertura da passagem, centenas de palestinos se deslocaram        -  (crédito:  AFP)
Após a abertura da passagem, centenas de palestinos se deslocaram - (crédito: AFP)

O exército israelense se retirou ontem do corredor Netzarim, que divide a Faixa de Gaza em duas e impede o deslocamento entre os dois lados. O ato faz parte da primeira fase da trégua entre Israel e Hamas, em vigor desde 19 de janeiro. Logo que o movimento foi anunciado, formaram-se filas enormes de carros, caminhões e carroças superlotadas, indicando a retomada do fluxo populacional no local. 

Osama Abu Kamil, um homem de 57 anos obrigado pela guerra a viver em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, por mais de um ano, conseguiu retornar para sua casa em Al Maghraqa, ao norte do corredor que estava interditado.  "Vou montar uma barraca para mim e minha família perto dos escombros da nossa casa. Não temos escolha. A vida em Gaza é pior que o inferno", afirmou à AFP.

Conforme Carolina Antunes Condé de Lima, doutoranda em relações internacionais no Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas, o cumprimento dessa etapa do cessar-fogo possibilita uma liberdade de movimentação dos habitantes da região, sem passar pelos constrangimentos e violências em seu próprio território. 

“Isso, contudo, não resolve os problemas criados pela ofensiva de 8 de outubro nem significa que Israel cumprirá os demais termos do acordo”, pontua. A Cisjordânia, por exemplo, continua ocupada pela violência promovida por Israel. O Ministério da Saúde palestino anunciou, neste domingo, a morte de três  pessoas na região, incluindo uma mulher grávida de oito meses.

Negociações

Agora, espera-se o início da segunda fase do cessar-fogo. No entanto, o futuro do território palestino está ainda mais incerto depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu que seu país deveria "assumir o controle" da Faixa de Gaza e deslocar os habitantes. Ainda ontem, Netanyahu elogiou a sugestão e explicou a seus ministros que ele e Trump concordaram em "garantir que Gaza já não represente uma ameaça para Israel”, afirmando que o país está disposto a "fazer o trabalho”. Ele afirmou, ainda, que o estadunidense tem "um enfoque revolucionário e criativo", reforçando que Trump está "bastante decidido a aplicá-lo.”

"“O povo palestino já tem um país e eles não têm que ser realocados para lugar nenhum. Ser a favor disso é ser a favor de um crime"" Carolina Antunes Condé de Lima, doutoranda em relações internacionais

O norte-americano afirmou que Egito e Jordânia poderiam acolher os palestinos de Gaza, todavia, os dois países rejeitaram enfaticamente a ideia. Além disso, o Egito divulgou que será palco de uma cúpula árabe extraordinária em 27 de fevereiro para abordar "os últimos acontecimentos sérios" relacionados à Palestina. Vários países condenaram os comentários de Netanyahu, que pareciam sugerir a criação de um Estado palestino em território saudita. "A lógica por trás deles é inaceitável e está longe da realidade", disse o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abuk Gheit, em comunicado, chamando a ideia de "meras fantasias ou ilusões.” 

Em entrevista coletiva ontem, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, frisou que “ninguém tem o poder de retirar o povo de Gaza de sua pátria eterna, que esteve ali por milhares de anos". Segundo Condé de Lima, existe a possibilidade de outros países aceitarem essa postura. “Isso depende de quais seus interesses com o atual governo estadunidense, mas esse é um cálculo que precisa ser muito bem feito porque pode ter suas retaliações.”

Isabella Almeida
Marina Rodrigues
postado em 10/02/2025 06:01
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