
Em condições normais de temperatura e pressão, Muricy Ramalho seria o favorito a assumir a Seleção Brasileira, mas o coração do tetracampeão brasileiro por São Paulo (2006, 2007 e 2008) e Fluminense (2010); e da Libertadores com o Santos de Neymar (2011) deu ultimato ao paulistano em 2016. “O futebol dá muito, mas tira a saúde. A conta chegou. As arritmias. Fui internado três vezes na UTI. Acabou comigo. Tudo estresse, tudo estresse”, conta o coordenador-técnico do São Paulo na entrevista exclusiva ao Correio Braziliense. “Passei por uma ablação. Queimam a gente por dentro, todos os focos onde tem arritmia. Fiquei bom. Faz dois anos que operei”. A versão light — e menos workaholic — do protagonista do bordão “aqui é trabalho” é notada nas respostas. Muricy abriu mão da carreira de treinador. De outros amores, não. Casado há 45 anos com Roseli, não se arrepende do “não” ao convite de Ricardo Teixeira para assumir a Seleção em nome de um legado inegociável do pai: a palavra. A personalidade forte é a mesma. Convicto, discursa contra a xonofobia, admite a nomeação de um técnico estrangeiro para o Brasil, cita Abel Ferreira e Pep Guardiola e menciona os novatos Roger Machado, Rogério Ceni e Filipe Luís.
São Paulo
O futebol para mim é a minha vida. Eu cheguei aqui com nove anos de idade, ainda era garoto, para jogar futebol de salão. Depois, passei por todas as categorias. Fui jogador profissional, depois comecei na base como técnico, fui treinador do profissional, parei de ser técnico e fui comentarista no SporTV. Foi muito legal. A minha carreira nunca parou. Fiz teatro também com o Denilson, porque eu acho que é difícil você parar e ficar em casa. Parece que você fica meio enferrujado. Então, fiz de tudo e faz quatro anos que eu voltei.
Volta ao tricolor
Não foi um convite. Foi uma convocação para voltar para casa. Aqui é a minha casa. Poder ajudar essa gestão, modificar. O São Paulo ficou muito tempo passando por um mau momento, em todos os sentidos. Em termos de títulos, de estrutura. Agora, graças a Deus, a gente retomou tudo. O São Paulo é outro time, outra estrutura, a estrutura que sempre teve, que é muito forte, a torcida voltou ao Morumbi. A gente está muito feliz.
Discrição
Estou agora na coordenação técnica. Às vezes, as pessoas perguntam: O que é isso? Não é fácil! Eu sou um ex-técnico que ganhou neste clube. Tenho que ter cuidado, meus limites. Tenho que estar sempre perto do técnico, mostrando para ele o que é o São Paulo, a torcida. Sempre com um limite para que ele sinta confiança em mim. Eu não quero ser mais técnico. Falo sempre. Eu tô indo bem, estou feliz para caramba. São quatro anos. Estivemos em cinco finais, ganhamos três. Então, estamos indo bem.
Coadjuvante
Dificilmente acontece o que estou fazendo aqui, uma entrevista com alguém. Eu tenho que tomar cuidado. O futebol é um lugar meio nervoso, e eu não tenho que aparecer mais. Quem tem que aparecer é o técnico, são os jogadores. Eu tenho que fazer o meu trabalho um pouco silencioso. Eu apareço o menos possível.
Respeito ao técnico
Antes do jogo, não vou no vestiário. Eu não vou à preleção. Tenho que tomar um certo cuidado. Tenho um respeito muito grande pelos treinadores, porque eu fui treinador. Eu não quero que façam com o treinador atual (Luis Zubeldia) o que fizeram comigo. Eu protejo o cara, dou todas as dicas.
Temperamento
Por isso, estou aqui há quatro anos e nunca tive problema com nenhum deles (treinadores). É difícil, porque eu peguei gente diferente. O (Hernán) Crespo era diferente; o Rogério Ceni era muito diferente, mas foi meu jogador também. Depois, o Dorival (Júnior), que foi meu auxiliar, que foi meu jogador também, e agora o (Luis) Zubeldia. Isso faz com que o respeito exista e eles tenham confiança em mim. Eles ganhando, o São Paulo ganha, e para mim o mais importante é o São Paulo, não é a gente. Trabalho para o São Paulo, meu time de coração. Tem as diferenças, todo mundo tem, mas fica aqui. Ninguém precisa expor ninguém. Houve quatro trocas de técnico aqui, nunca aconteceu nada por causa do respeito que nós temos.
Guru
A minha escola é Telê Santana. Tive sorte na minha formação. Fiquei muitos anos com ele. Foi um projeto que, agora, eu quero desenvolver no São Paulo. Eu tentei com o Alex, mas ele quis seguir carreira. Vou tentar com o próximo técnico da Sub-20, que é o Allan (Barcellos). O Telê era diferente, à frente do tempo dele. Queria formar um treinador para assumir o lugar dele. Queria formar um treinador que tivesse a mesma escola dele para assumir o São Paulo.
Mestre e discípulo
O Telê Santana me escolheu para passar o tempo todo com ele. Eu ficava quase 24 horas ao lado dele para ver tudo. Coisas positivas, negativas. Eu ia passar no futuro tudo o que ele estava passando. Tive uma boa escola nesse sentido. Quando comecei a ser profissional, eu tinha mais facilidade para resolver por causa da experiência com o Telê.
Parreira
Eu peguei o Parreira também. Foi um investimento. Quando houve a mudança do Telê com o Parreira, tive muitos convites para outro time. Eu não quis. Parreira era mais um professor. Eu investi muito na minha carreira. São as escolas que eu tive.
Workaholic
O Telê era um trabalhador. Chegava no campo às 6h30 da manhã. Isso foi me contaminando, o pensamento do Telê. o lado teórico é importante nos estudos. Ele e Parreira ajudaram.
"Aqui é o trabalho"
Foi no último jogo do Campeonato Brasieliro de 2008, contra o Goiás, no Gama. O título mais difícil dos três, por isso ficou marcado na minha carreira, e aí surgiu o “Aqui é trabalho”, justamente nesse jogo aí (contra o Goiás), aqui em Brasília.
Virou bordão
Quando acabou o jogo, um repórter daqui falou assim: “O que é isso, cara, com essa confusão toda, um desmanche do plantel, como você conseguiu?” Eu sem querer tirei da cabeça assim: É que aqui é muito trabalho, cara, e isso ficou gravado. Quando eu sempre ando nos lugares, as pessoas querem que eu faça o gesto ainda.
Reconstrução
Em 2008, quando a gente foi desclassificado na Libertadores, o São Paulo estava 11 pontos atrás do Grêmio, estava lá por terceiro, quinto, quarto lugar. A diretoria viu que a gente não tinha muitas chances e foi tirando jogadores importantes. O Adriano Imperador, o Chulapa, vários. Foi tirando e meio que assim: “olha, agora você se vira aí, porque a gente está um pouco longe do título”. E como eu sou um cara que não desisto fácil assim, consegui juntar as peças que eu tinha.
Quebra-cabeça
Não eram jogadores de nome. Gerava um pouco de desconfiança. Sou muito aberto com os jogadores para falar isso aos que ficaram. Eles entenderam que era possível mudar a história de 11 pontos atrás do Grêmio. Foi acontecendo. Por isso, é importante o técnico não desistir nunca dos jogadores. Eu convenci os jogadores de que era possível.
Reação em 2008
Ficamos quase 18 partidas sem perder no segundo turno. Uma força impressionante. Aí vêm o Hernanes, Jean, Borges, trocou muito. Foi o título mais difícil por essas trocas. O Goiás complicou demais a gente. Chuva, gramado que não conhecíamos...
Bastidores
Teve o episódio da troca do juiz. Uma confusão danada aqui. Morte do lado de fora do estádio. Foi muita confusão. Quando acabou o jogo, eu estava esgotado. Foi um ano muito duro. Para me recuperar, tive que trabalhar muito, principalmente a parte mental, e isso desgasta muito o ser humano.
Saúde
O futebol dá muitas coisas, mas tira. Uma das coisas é a distância da família. Conheci a minha filha com três meses. Estava jogando e não vi o meu pai ser enterrado. Tira a saúde da gente, porque a pressão é gigante pelo resultado. Eu sou do clube, sou da casa. A pressão é maior para mim. É o meu time do coração. Eu me desgasto demais emocionalmente. Aí a conta chegou. As arritmias. Eu fui internado três vezes na UTI. Acabou comigo. Tudo estresse, tudo estresse.
Escolha
Na última vez que eu fui para a UTI, tive de escolher. Eu estava no Flamengo. O médico falou pra mim: “Olha, você correu muito risco dessa vez”. Quando ele falou isso, eu disse chega. Se eu corri tanto risco assim, não vou esperar acontecer de novo. Resolvi parar a carreira de treinador e cuidar da minha saúde, ficar mais perto da minha família. Fui melhorando, houve os convites, Sport TV, depois teatro, até voltar ao São Paulo.
Conselhos
Fui um dos primeiros a ter essas coisas. Eu expliquei para o Abel (Braga), que é meu amigo até hoje. O Renato teve que operar. Eu falei para eles, meu, é problema de estresse. Enquanto vocês não derem um tempo do futebol, não adianta. Eu saía de casa, a minha mulher falava assim: “fica tranquilo”. Não tem como ficar tranquilo. Eu passei isso para eles.
Cura
A recomendação para mim foi operação. Eu fiquei quase zerado. Passei por uma operação de ablação. Queimam a gente por dentro, todos os focos, onde tem arritmia. Fiquei bom. Faz dois anos que operei.
Nova rotina
Estou muito bem de saúde. Claro que agora a minha vida é um pouco mais regrada. Não viajo muito com o time. Só quando ficamos uma semana aqui em Brasília. Quando vamos para os EUA, eu tenho um certo cuidado. Vou todo dia ao CT. Criaram também home office. Mas no futebol não tem jeito. Todo dia estou em contato com os jogadores, com o técnico. Vou nas finais para acalmar o técnico. Agora, eu que acalmo os caras. Não é fácil. Fico nervoso porque é meu time e a gente é do futebol, mas não tão nervoso como eu era.
45 anos de casado
Eu acho que é o exemplo do pai e da mãe que eu tive. Ficaram muitos anos juntos. Eu tenho 45 anos de casado, fora um monte de namoro. A gente era do mesmo bairro, se conhece desde criança. Eu sempre falo: se eu não tivesse a mulher que eu tenho, com certeza eu não ia conseguir chegar onde cheguei. Não participei tanto da criação dos meus três filhos. Eu trabalhei na China, no Recife, em vários lugares. Florianópolis, Porto Alegre. Se você não tem uma esposa que segura a onda, e o trabalho dela é sempre o mais difícil, a verdade é essa, de criar os três sozinhos, então eu não chegaria onde eu cheguei.
Almas gêmeas
Você tem que ter essa sorte que eu tive de escolher essa mulher maravilhosa que eu tenho. A gente se dá muito bem. Eu sempre costumo falar que a gente é uma pessoa só, somos muito apegados. A gente tem essa coisa de família. Os meus filhos estão seguindo o mesmo caminho. Estão há muito tempo casados. Eu tive essa felicidade de ter minha esposa. Chegar triste de um jogo que você perde, e ela estar sempre lá te abraçando, te dando força. Eu acho que o Zico também tem a mesma história, parecida.
Anjo da guarda
O Telê Santana cuidava muito da família dos jogadores. Tudo que o Tele fazia, eu tento fazer. Claro que hoje são diferentes os dias. Os jogadores têm outros pensamentos, são mais profissionais. O Telê explicava para mim que não ganhava tanto dinheiro. Na época dele, ganhava-se muito pouco. Até que ele parou de jogar e abriu uma sorveteria. Ele se preocupava demais com os jogadores. Passava no estacionamento para ver os carros dos caras, e aí tinha algum moleque juvenil que comprava logo um carro importado. Ele mandava vender. Do contrário, não deixava treinar mais. Ele explicava: “Estou fazendo isso para o seu bem, pega esse dinheiro, compra um terreno, uma casa, você ainda está começando no futebol”. Ele se preocupava muito com as pessoas, com o futuro. Os caras na época ficavam bravos, porque eram jovens. Esses mesmos jogadores, depois de muitos anos, estavam muito mal e falavam: “Devia ter escutado o Telê, comprado o terreno.”
Abertura com o elenco
De vez em quando, falo para alguns jogadores, opino bastante. As pessoas pensam que eu sou muito bravo. Não tem nada a ver, os meus jogadores de antigamente até hoje me chamam de pai, ligam toda hora. (Aloísio) Chulapa, toda essa turma. Oriento, porque todos eles têm problemas. Você falou de família, relacionamento, porque o futebol afasta muito o jogador, aí a família também não aguenta. Quer a pessoa próxima.
Origem
Tudo que eu aprendi vem muito do meu pai. Ele não era de classe boa financeiramente. Trabalhava no mercado. Era um cara muito duro. Passava todos os exemplos de família. Tinha que ser correto, aquelas coisas das pessoas de antigamente. E é a minha história.
Geração atual
Eles têm as pessoas que cuidam do dinheiro deles, do lado financeiro, as pessoas profissionais que cuidam deles. O lado emocional continua igual. Se eles tiverem confiança no técnico, procuram. Eles me procuram muito para um conselho, o que eu acho, então eu tenho uma forma de conviver bem. É por isso que eu estou aqui faz quase cinco anos.
Atualização
O futebol mudou demais. A parte física, a intensidade do jogo, de treinamento. Você tem que acompanhar isso. Aí não tem idade. Se você acompanhar, pôr na cabeça que você pode, e aceitar que o futebol mudou... Tem que acompanhar isso. Se não tiver esse pensamento, não dá certo. Mudou o discurso, a conversa com os jogadores, as palavras, de vocês na imprensa, tudo mudou. Eu estou me renovando. Eu tenho outro tipo de técnico (Luis Zubeldia). Tive o Dorival, o Crespo, o Rogério. São todos diferentes. Atualização todo o dia.
Coração de estudante
Leio bastante. Vejo muitos jogos. É onde você aprende. Uma das coisas importantes, além dos estudos, é você ver jogos. Eu acho assim, igual você, jornalista. Você tem que estar ligado no jornalismo, como é que está a parada, como estão os negócios, as novidades. Eu sou viciado em jogo. Vejo toda hora qualquer jogo. Sempre tem algum movimento que você pode aplicar. Eu gosto de aprender e continuo aprendendo.
Literatura
Eu gosto de ler futebol. Quando eu vim para Brasília, eu achei um livro meu primeiro dos três títulos do São Paulo, em 2006. Um cara fez um livro contando como o São Paulo ganhou o título. A tática de jogo. Muito legal. Eu tinha esquecido tudo já. Eu estava lendo as coisas minhas e até comentei com o Milton Cruz e o Rui, que é o nosso diretor. Falei que naquele tempo eu já tinha coisas que fazem hoje, essa coisa da intensidade, de mudança de tática. Eu fazia. Fiquei surpreso, até porque foi em 2006.
Biografia
Está tudo pronto para ser lançada. É a minha história, de família, não como essa de 2006, que conta como foi feito, porque eu ganhei, jogo a jogo, como mudei o esquema. Como diria o Luxemburgo, eu estava na vanguarda.
Melhor do mundo
Guardiola. Eu adoro o Guardiola. Para mim, é o melhor. As pessoas não se deram conta, mas aconteceu uma coisa séria com ele nesta temporada: o divórcio. Foi um negócio muito sério. Ele teve que fazer uma escolha. Machucou. Por isso que eu falo: as esposas ficam muito longe e aconteceu com ele. Ele está um pouco triste, mas o cara é craque.
Copa de 2026
Está chegando, e a gente fica preocupado. Eu quase fui treinador da Seleção e pensava: como é que eu vou fazer, sou um cara do dia a dia, gosto de treinamento, gosto de ter contato com os jogadores, gosto de dominar o lugar, de conhecer os funcionários. Eu vou chegar na Seleção e não vou ter nada disso. O técnico da Seleção não tem esse dia a dia, tem dificuldade para extrair, às vezes, o que o cara tem de melhor. Falta achar o time ideal, acreditar nesse time ideal, e fazer esse time jogar um pouco mais junto.
Sucessor de Dorival
Sou a favor de um bom técnico, não importa onde nasceu. Seria Roger Machado, Rogério Ceni, Filipe Luís, Abel Ferreira, Pep Guardiola. Não importa a ordem, ok?
Safra boa ou ruim?
Não, a safra é boa. Nós temos uma boa safra. O que mais pega é juntar essa safra. Fazer todas essas pessoas se juntarem. Eu adoro o basquete: tem o lado individual, você faz a jogada coletiva, mas quem define sempre é o individual. Sempre tem um cara de ponta lá para fazer a de três. O futebol é parecido também. O coletivo tem que funcionar para o individual, um Vinicius Júnior, fazer uma jogada, gol. Neymar fazer uma jogada. Aí entra o individual. Nós temos jogadores, mas o que falta é isso, juntá-los. Às vezes, eu vejo um comentário de que o cara joga muito no clube e aqui, não. Eles têm o dia a dia, jogos diretos, atuam um com o outro. Nós temos uma boa safra que dá para juntar, e na hora que juntar, houver associação e eles acreditarem que é possível... Esse negócio de safra ruim é muito simplista.
Neymar
Ele está focado na Copa do Mundo. Eu o treinei no auge. Vi coisas que eu não via só nos jogos. A torcida, vocês da imprensa, viam os jogos. Eu via todo o dia no treinamento e nos jogos. Era um prazer ver um cara desse jogar, o que ele fazia. Um dos melhores profissionais com quem eu trabalhei. Era o primeiro a chegar e o último a sair. Tinha o melhor preparo físico do Santos, a parte aeróbica. É difícil um atacante ser assim. Sempre são os meio-campistas, os laterais, que têm muita força. Não, era ele, o cara. Hoje, ele perdeu um pouco disso. É um jogador que está um pouco diferente. Lembra o que aconteceu com o Müller. Ele era um cara muito explosivo. Depois que deu um passinho para trás, aí, meu, ele ficou um fenômeno. Servia a bola como ninguém enxergava. O Neymar está nesse ponto já. Não é mais aquele cara de arrancada na frente.
Reinvenção
Ele vai ser o número 10 ali, que vai passar, organizar. De vez em quando, vai dar uma arrancada, mas não vai ser toda a hora. Ele já não tem essa potência. E ele já sabe disso. Esses caras diferentes, igual foi o Ronaldo Fenômeno, você tem que confiar. Eles podem fazer alguma coisa, porque eles não precisam mais de nada, cara, a não ser a volta por cima. Quando são criticados, querem fazer o Ronaldo de 2002. Ele estava morto. Ele estava morto com o joelho dele. Ele encarou e foi, na minha opinião, o melhor da Copa de 2002. Deram o prêmio para o alemão (Oliver Kahn) não sei nem por que.
Profissionalismo
O Neymar é diferente. Ele tem que colocar na cabeça que tem de melhorar muito fisicamente, se entregar muito, fazer muito sacrifício. Eu acho que a gente pode ter um bom Neymar na Copa.
Não ao Ricardo Teixeira
Eu sou muito resolvido, cara. Naquela vez, eu fui convidado para ser técnico. Mas depois disso, eu fui convidado outras três vezes. Agora foi a última. O Tite foi na minha casa. Eu até me surpreendi. A humildade que ele tem, técnico da Seleção Brasileira na minha casa. E depois fui convidado pelo (ex) presidente da CBF, Rogério Caboclo. Agora, a última. O Dorival com o presidente (Ednaldo Rodrigues). Eles ligaram para fazer o convite.
Palavra
Eu, como sempre, tenho essas coisas minhas, aquelas manias que não têm jeito. Eu falei para ele e para o presidente: vocês sabem qual é a minha resposta. Estava no café da manhã, inclusive, no CT do São Paulo. Eu vou ter que dizer não para você (Dorival Júnior) e para o presidente (Ednaldo Rodrigues) que está aí do seu lado. É um compromisso que eu tenho com São Paulo, é meu clube, você sabe disso. Não tenho como chegar agora no presidente, com quem tenho contrato, e falar que vou para a Seleção. Isso para mim não cabe. Eu sei que no futebol isso não é muito valorizado, porque amanhã os caras desistem de você, também mandam embora e acabou. Mas, para mim, O que me interessa é o que eu estou fazendo agora.
Arrependimento
Tudo o que eu fiz, foi o que eu tinha que ter feito naquela hora. Meu pai era português. Trabalhava no mercado de Pinheiros. Andava de ônibus. Ele era aquele português de 1900. Ele queria que fosse daquele jeito: a palavra que você deu tem que cumprir. Todos os filhos eram assim, bravos para caramba. Eu fui criado desse jeito, cara, e eu fico preso nisso. Sou radical. Meu, um dos meus filhos, nesse episódio da Seleção (em 2010) falou: ‘Pô, pai”. Eu não falei para ninguém, só para a minha esposa. Ela sabia quando eu ia conversar com o presidente (Ricardo Teixeira). Meu filho falou: “Meu pai, você é louco, cara, como você não vai ser técnico na Seleção Brasileira, a Copa do Mundo aqui no Brasil e tudo.”
Lição
Eu falei, filho, não tem jeito, cara. Seu pai é desse jeito. Você não vai ver seu pai na Seleção porque eu sou assim e vou continuar assim, entendeu? Não tenho arrependimento. Se eu tivesse quebrado o contrato com o Fluminense, aí, sim, eu ficaria mal. O resto da minha vida eu ia ficar mal, entendeu? Eu seria contra o que é a minha vida. Não abro mão disso, não sei viver de outra forma. Continuei no Fluminense e fomos campeões do Brasileirão de 2010.
Política
Sinto muita tristeza. A gente vê o tempo passando e piorando. As pessoas passam fome no país. A gente não vê um esforço dos nossos comandantes, dos nossos políticos, para tentar melhorar isso. Estão interessados neles. Fico imaginando como seria se todos esses caras esquecem esses partidos. Não tem partido mais. O partido é o brasileiro. Se esses caras falarem: vamos deixar todas as diferenças de lado ficar 10 anos juntos, eles aceitariam esse país.
Desilusão
Esses caras se acham maiores do que o país. É uma guerra, tudo separado, o povo continua passando fome. Isso é o pior. Então, isso me deixa... A gente anda na cidade e as pessoas sentem tristeza. A única chance é um dia esses caras se juntarem um dia e falarem: ‘nós vamos fazer desse país uma potência.
*Colaborou Arthur Ribeiro