GOVERNO TRUMP

Shutdown nos EUA pode afetar economia mundial e exportações brasileiras

Especialistas estimam perda de US$ 400 milhões por dia em salários

"O shutdown do governo americano gera impactos tanto domésticos quanto internacionais", diz especialista - (crédito: Reprodução/Freepik/Sharon Housley/DejaVu Designs)

O governo dos Estados Unidos anunciou que entrará em “shutdown” e começou a suspender as operações na quarta-feira (1º/10), após o congresso não conseguir entrar em um acordo sobre o orçamento.

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O shutdown (desligamento, em tradução livre), é uma paralisação que interrompe o trabalho de vários departamentos e agências federais, afetando centenas de milhares de funcionários governamentais.

“O shutdown do governo americano gera impactos tanto domésticos quanto internacionais, mas reflete muito mais uma disputa política do que uma crise econômica estrutural imediata dos EUA.”, diz a especialista em comércio internacional, Andrea Weiss.

Segundo o Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, sigla em inglês), 750 mil funcionários federais podem entrar em situação de desemprego parcial, com uma perda de rendimentos equivalente a US$ 400 milhões (R$ 2,12 bilhões). Os trabalhadores do governo federal não receberão salário até o fim da paralisação.

De acordo com o professor de economia Renan Silva o mercado financeiro pode gerar volatilidade, especialmente se houver dúvidas sobre a capacidade do governo de honrar obrigações fiscais. Os consumidores e os investidores podem perder a confiança geral, reduzindo investimentos e gastos devido à incerteza.

O "shutdown" anterior, ocorrido de dezembro de 2018 até o fim de janeiro de 2019, durante o primeiro mandato de Trump, durou 35 dias. Naquele momento, o CBO estimou que havia reduzido o Produto Interno Bruto (PIB) em US$ 11 bilhões.

De acordo com o economista Luciano Bravo, CVO da Inteligência Comercial, ainda é cedo para dizer se esse “shutdown” durará mais do que o de 2018. “Se houver pressão econômica e política forte, pode terminar em semanas; se o governo insistir em usar a paralisação como arma, pode se prolongar por meses”, ele frisa.

No que diz respeito ao impacto que a paralisação pode causar na economia brasileira, a economista Andrea Weiss, especialista em comércio internacional, acredita que a indústria nacional pode sofrer com diminuição temporária da demanda americana, atrasos em licenças de importação e incerteza regulatória.

Além disso, Weiss fala que a volatilidade do dólar — que aumenta devido à maior incerteza econômica e política causada pelo shutdown — afeta o Brasil porque os contratos de exportação são negociados em dólar, de modo que a instabilidade dificulta o planejamento financeiro.

O impasse no Congresso

Os republicanos apresentaram uma proposta para prorrogar o financiamento atual até o final de novembro, enquanto um plano de gastos a longo prazo era negociado.

Mas os democratas queriam restituir centenas de bilhões de dólares em gastos com assistência médica, em particular no programa de seguros de saúde denominado Obamacare para famílias de baixa renda.

Apesar da maioria republicana no Senado, o partido de Trump não controla todos os votos necessários para aprovar leis orçamentárias. Estas exigem 60 votos, sete a mais do que os republicanos têm.

Tarifaço

De acordo com o professor Renan Silva, o shutdown não parece impactar diretamente as tarifas impostas pelo governo Trump. No entanto, as negociações podem atrasar caso o shutdown se prolongue.

“Se o shutdown se prolongar, os efeitos podem ser mais severos, tanto para a economia americana quanto para o Brasil, reforçando a necessidade de monitorar os desdobramentos políticos e econômicos.”, frisa Silva.

Para o economista Luciano Bravo, com Washington paralisado, a chance de negociar a redução ou suspensão das tarifas cai, mantendo a pressão sobre exportadores brasileiros. “Além de prejudicar empresários brasileiros que dependem do mercado americano, que pode reduzir a competitividade da indústria nacional e desorganizar cadeias de fornecimento ligadas ao comércio bilateral”, completa.


*Estagiário sob supervisão de Pedro Grigori

 

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CY
postado em 01/10/2025 21:15
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