CB.DEBATE

"Estamos sendo persuadidos por uma estrutura tecnológica", diz professor de T.I

Em participação no 'CB.Debate: Inteligência Artificial e as Novas Tecnologias', Jorge Fernandes, professor associado do Departamento de Ciência da Computação da UnB, sublinhou que IAs são capazes de persuadir e influenciar

Estima-se que, até 2026, 90% do texto na internet será gerado por LLMs, muitos projetados para influenciar e manipular comportamentos humanos -  (crédito:  Minervino Júnior/CB/D.A Press)
Estima-se que, até 2026, 90% do texto na internet será gerado por LLMs, muitos projetados para influenciar e manipular comportamentos humanos - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

A natureza da inteligência artificial (IA) nasce de uma tecnologia que redefine a relação entre humanos e máquinas. Ao CB.Debate: Inteligência Artificial e as Novas Tecnologias, realizado pelo Correio Braziliense em parceria com o Sebrae, nesta terça-feira (30/4), Jorge Fernandes, professor associado do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília (UnB), explicou que a adoção crescente de Large Language Models (LLMs) nas indústrias levanta preocupações sobre manipulação e persuasão.

Segundo o especialista, o uso generalizado e não regulamentado da IA, especialmente dos LLMs, apresenta sérios riscos. Embora seja certo que as indústrias que adotarem a IA verão um aumento na produtividade, o professor adverte sobre os perigos da dependência cega dessas tecnologias. Os LLMs, como o ChatGPT, por exemplo, são capazes de persuadir e influenciar, mas também estão sujeitos a imprecisões e até mesmo a ataques.

“Estamos sendo persuadidos por uma estrutura tecnológica. Vivemos dentro desse mundo. Essas tecnologias estão sujeitas a imprecisões, alucinações e ataques. A gente precisa ter um raciocínio crítico para poder sobreviver a esse sistema”, afirmou.

Para Fernandes, a IA não é apenas mais uma tecnologia, ela representa uma mudança na maneira como os seres humanos interagem. Desde os primórdios da civilização, a humanidade tem utilizado ferramentas e tecnologias para moldar seu ambiente e suas experiências. No entanto, a IA é introduzida de uma forma única, pois está ligada à linguagem, à cognição e ao funcionamento do cérebro humano.

“IA é uma tecnologia com uma característica diferente. As tecnologias que produzimos compulsivamente tem uma interação muito forte com a questão da linguagem, cognição e o nosso cérebro. Nós estamos articulando formas de enxergar o mundo a partir da linguagem construída. A cognição humana está ligada às máquinas que criamos”, disse.

Uma das principais áreas de aplicação da IA é nas indústrias, onde as LLMs estão cada vez mais presentes. Estima-se que, até 2026, 90% do texto na internet será gerado por LLMs, muitos projetados para influenciar e manipular comportamentos humanos, seja para fins comerciais, políticos ou sociais. Fernandes ressaltou que vivemos em um mundo onde somos constantemente influenciados por essas estruturas tecnológicas.

“A gente tem um problema de assimetria informacional, o que vai gerar um aumento da desigualdade social, com a perda de empregos. Os estudos dizem que o desemprego, em função dessa adoção, pode levar até 50 anos para reparar esse processo por conta da dificuldade de adaptação das pessoas, além de uma perda geral de senso crítico”.

Assista ao evento

*Estagiária sob a supervisão de Pedro Grigori

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postado em 30/04/2024 23:28
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