MÚSICA

Daniela Mercury faz shows em Brasília com repertório de Chico Buarque

Cantora baiana apresenta o show Uma Chica, em que interpreta canções memoráveis do compositor carioca

 Daniela Mercury estreia homenagem a Chico Buarque na CAIXA Cultural Brasília -  (crédito:  DIvulgação/ Territorio Comunicação)
Daniela Mercury estreia homenagem a Chico Buarque na CAIXA Cultural Brasília - (crédito: DIvulgação/ Territorio Comunicação)

Dona de uma das mais belas vozes da música popular brasileira, Daniela Mercury se notabilizou como rainha da axé music, movimento que em 2025 celebrou 40 anos, levando alegria às mais diversas regiões do país. A cantora, porém, é uma intérprete versátil.  Mesmo nos desfiles do bloco que comanda, durante o carnaval de Salvador ela inclui no repertório clássicos  de gêneros diversos do cancioneiro de outras regiões do país.

Essa característica do trabalho da cantora baiana pode ser apreciada em Uma Chica,  show com o qual  celebra a obra de Chico Buarque de Holanda, que tem estreia nacional neste fim de semana em Brasília. Acompanhada por banda e contando com a participação especial do filho, cantor e compositor Gabriel Mercury, ela cumpre curta temporada de hoje a domingo, no teatro da Caixa Cultural, na sequência das comemorações dos 45 anos da instituição.

Daniela define o tributo como uma celebração à trajetória do compositor. "O show é, antes de tudo, um tributo a este grande artista brasileiro que, com mais de 80 anos, segue cantando  o país, retratando sua gente e suas questões políticas sociais e econômicas, com maestria e poesia únicas; a quem tomo como uma permanente uma fonte de inspiração".

A cantora lembra que as composições de Chico Buarque integram seu repertório desde os tempos em que se apresentava nos bares de Salvador. Ela vê no consagrado artista carioca uma fonte de inspiração. Ao longo da carreira "No meu primeiro álbum, O Canto da cidade, de 1992, numa das faixas fiz o registro  de Cotidiano.

Ao longo da carreira ela gravou Atrás da porta, O que será e Retrato em branco e preto. Além disso, foi idealizadora do espetáculo Elas cantam Chico, no qual se apresentava ao lado de Margareth Menezes (a atual ministra da Cultura), Elba Ramalho, Roberta Sá e Paula Lima. O show foi visto pelos brasilienses no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães.

Em Uma Chica, produzido por Vander Lopes, Letícia Trindade e Glauker Bernardes, Daniela será acompanhada por Mou Brasil (guitarra), Bruno Aranha (teclados) e Victor Brasil (bateria).  Gabriel Mercury toma parte de Uma Chica, abrindo o show e acompanhando a mãe. Sobre a parceria familiar, a cantora comenta: "Estou muito feliz por ter Gabriel comigo em cena. Além de ser um herdeiro da minha música, Gabriel é um talento único. Possui uma voz linda, além de ser extremamente doce e delicado".

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Entrevista/ Daniela Mercury

De que forma comemorou os 30 anos da axé music?

Ter feito o primeiro Camarote Salvador, um camarote chamado Daniela Mercury, foi uma experiência fantástica. No começo, com aquele jeito despojado de receber todo mundo. Eu fico muito orgulhosa de ter feito um espaço para os jornalistas virem, conviverem com os artistas, com os grandes cantores, compositores, produtores. Eu me lembro de Cacá Diegues conosco, Bruno Barreto, Sônia Braga, Caetano, Gil. Todos maravilhosos, tantos atores, como você disse. Todo mundo acho que veio para o meu camarote, o camarote Daniela Mercury. Virou realmente um centro muito agradável, um lugar muito gostoso, uma festa contínua que ficava paralela ao carnaval e criou público para o carnaval da Bahia. Formadores de opinião, mediadores culturais e pessoas puderam usufruir do carnaval de outra maneira.

Você foi pioneira, entre artistas da axé music, a participar da Micarecandanga. Isso teve alguma importância para você?

Os blocos, para mim, são imbatíveis, são maravilhosos, importantes, fazem parte da tradição. Acho que a gente tem que valorizar. E sobre a Micarê Candanga, eu me lembro sempre, porque, para mim, era uma novidade fazer carnaval fora do estado da Bahia. Eu me lembro com o Ricardo Chaves, com a Banda Eva, eu cantava como a segunda cantora, não tinha muito protagonismo, porque ele era o principal, os homens eram principais. No entanto, no Gilberto Salomão, no final do show, sete mil pessoas gritavam meu nome. Isso eu nunca esqueci. E, aí, fazer Micarê Candanga também foi uma forma de voltar a Brasília e dizer, estou aqui. Sou a mesma Daniela que vocês me estimularam a cantar. E voltar agora para fazer esse show, a minha expectativa para o show de Chico é poder passear pelo Brasil, pelo mundo, porque eu adoro cantar a obra de Chico.

Qual é sua relação com a obra de Chico Buarque?

Amo, amo, amo, é delicioso, é prazerosíssimo. Difícil, mas prazerosíssimo. Então, eu quero poder fazer mais shows, mas vou ter que me dividir entre o show normal, o show de carreira, que tem as músicas dos meus álbuns todos, e esse show que tem músicas do Chico.  Tem músicas que eu gravei também no álbum Axé voz violão, quando participei dos especiais com Chico, tanto ele no meu, quanto eu no dele. E é uma forma maravilhosa de poder usufruir da obra de Chico, de dentro dela, e prestigiar a existência dele, agradecer a existência de Chico.

O que foi determinante para homenagear Chico Buarque?

O determinante para eu homenagear Chico é que ele é uma influência muito grande na minha vida, nas melodias, nas letras, nas questões que ele aborda, os personagens. Eu, como artista, desde pequena, acompanhei o trabalho dele, sambista, falando do Brasil sempre, do povo brasileiro. Meu pai e minha mãe me apresentaram a obra dele, eu me lembro que eu indo para Cachoeira, Maragogipe, ouvindo Caros amigos, minhas irmãs, nós todos ouvíamos sistematicamente na nossa vida e a trilha sonora ficou marcada.

E a coisa de Chico lutar contra a ditadura, de ter sido exilado, eu acompanhei tudo isso quando era menina, na nossa casa nós tínhamos uma admiração muito grande pela luta dos artistas contra a ditadura, porque era nossa postura, nossa luta também. Então, ele sempre foi uma inspiração como grande poeta, escritor, um grande melodista também, um grande poeta da música. Eu adoro ouvir a voz de Chico também, adoro os discos dele, eu ouço, sistematicamente, até hoje.

 

A experiência de ter seu filho como acompanhante em show não é de agora. Como é esta relação artística familiar?

A relação comigo e Gabriel é maravilhosa. Eu tenho um respeito por ele, ele me inspira, ele compõe comigo, sistematicamente. Eu confio muito nele. Ele está dirigindo, junto com o Brasil, esse show e ele é rigorosíssimo, cuidadosíssimo com tudo. Eu adoro trabalhar com ele. Desde que ele começou a trabalhar, em muitos aspectos, como produtor musical, como diretor musical, como produtor e arranjador. Ele é muito sensível. Também revisa minhas masters, minhas mix. Eu mando sempre tudo para ele, mostro as músicas que eu fiz para ele, para ver se ele gosta.

Qual foi o critério para a escolha das canções do repertório?

Eu escolhi esse repertório, o critério foram algumas canções que eu gravei dele, algumas canções que eu acho que são muito importantes, como Cálice, Deus lhe pague. Tem muito a ver com o contexto do mundo, tudo o que continuou tenso, continuou essa preocupação muito grande com a nossa democracia, que é um exemplo para o mundo hoje, mas que estamos sofrendo confusões de interpretação à extrema-direita, falando sobre liberdade de expressão, inventando um outro contexto, que não é o contexto que estamos vivendo, mudando a realidade do Brasil.

Que momento estamos vivendo?

Eu acho que a gente está num momento de questionar o capitalismo selvagem, de pensar o preço que a gente paga destruindo a natureza, a questão climática e tudo, sonhando com mais consciência. Sonhando também com um lugar que muita gente desiste de sonhar. E eu não desisto.

De achar que a gente pode realmente, coletivamente, buscar um mundo mais igual, menos violento, menos cruel, independentemente de a gente estar num momento tão grave, de guerras tão cruéis como a da Ucrânia e de Gaza, entre Israel e Palestina. Acho que é o momento de se pedir paz, de se pedir consciência. Acho que a gente sempre pede, mas cada hora tem um peso diferente. As pessoas escutam de outra maneira. O que importa é quem escuta também. Eu começo o show com Retrato branco e preto, Vitrines, que é uma música que eu nunca gravei, nunca cantei.

 


  • Daniela Mercury interpreta Chico Buarque" estreia nacionalmente na CAIXA Cultural Brasília. O tributo será apresentado de 15 e 17 de agosto de 2025, em formato acústico, com participação especial do filho da artista, Gabriel Mercury.
    Daniela Mercury interpreta Chico Buarque" estreia nacionalmente na CAIXA Cultural Brasília. O tributo será apresentado de 15 e 17 de agosto de 2025, em formato acústico, com participação especial do filho da artista, Gabriel Mercury. Foto: Celia Santos/Divulgação
  • Daniela Mercury interpreta Chico Buarque" estreia nacionalmente na CAIXA Cultural Brasília. O tributo será apresentado de 15 e 17 de agosto de 2025, em formato acústico, com participação especial do filho da artista, Gabriel Mercury.
    Daniela Mercury interpreta Chico Buarque" estreia nacionalmente na CAIXA Cultural Brasília. O tributo será apresentado de 15 e 17 de agosto de 2025, em formato acústico, com participação especial do filho da artista, Gabriel Mercury. Foto: Celia Santos/Divulgação
  • Daniela Mercury interpreta Chico Buarque" estreia nacionalmente na CAIXA Cultural Brasília. O tributo será apresentado de 15 e 17 de agosto de 2025, em formato acústico, com participação especial do filho da artista, Gabriel Mercury.
    Daniela Mercury interpreta Chico Buarque" estreia nacionalmente na CAIXA Cultural Brasília. O tributo será apresentado de 15 e 17 de agosto de 2025, em formato acústico, com participação especial do filho da artista, Gabriel Mercury. Foto: Celia Santos/Divulgação
IR
postado em 16/08/2025 04:47
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