SAÚDE

Morte de Fuad Noman: entenda o tipo de câncer que o prefeito enfrentava

O prefeito de Belo Horizonte morreu nesta quarta (26), aos 77 anos. Ele enfrentava tumor desde julho de 2024. Médico explica o que fazer para evitar a doença

Prefeito de BH, Fuad Noman -  (crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Prefeito de BH, Fuad Noman - (crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), morreu aos 77 anos na manhã desta quarta-feira (25/03) em decorrência das complicações de um Linfoma não-Hodgkin, câncer contra o qual lutava desde julho de 2024. Tratava-se de um tumor do sistema linfático, que englobe órgãos responsáveis pela defesa do corpo. Ele é menos comum se comparado a outros tipos de câncer, como o de mama e pulmão.  

O oncologista Ramon Andrade de Mello, membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, explicou ao Estado de Minas que o Linfoma não-Hodgkin não tem uma causa direta conhecida e, por isso, não há um protocolo de prevenção. Entretanto, um estilo de vida saudável pode diminuir o risco de desenvolver a doença.

O médico recomenda atividade física regular, uma alimentação livre de processados e elementos industrializados, e rica em frutas, verduras e legumes. “Um bom queijo de Minas, um pão de queijo - que é saudável e não tem glúten, então não é inflamatório -, dormir bem também e ter um bom relacionamento social com as pessoas. Tem um estudo que fala que você ter amigos e ter ciclo social acaba por diminuir o risco de depressão e melhora a saúde mental, e a saúde mental é importante também”, disse.

Ele também acredita que a população deveria aderir às consultas preventivas regulares com os oncologistas, assim como o famoso check up com um clínico geral. Ele afirma que é possível fazer painéis de câncer genético hereditário e verificar a propensão familiar de determinados tipos de câncer, direcionando o rastreio. 

“Hoje eu já atendo no meu consultório pessoas que passam já para fazer rastreio anual, alguns fazem semestral. Lá na Coreia do Sul, por exemplo, se faz endoscopia a partir dos 35 anos. Aqui no Brasil o pessoal não faz, né? E aí, quando você tem um câncer esôfago gástrico aqui, ele já vem logo avançado na maioria das vezes”, analisa Mello.

O Linfoma não-Hodgkin

O Linfoma não-Hodgkin acontece quando as células do sistema linfático se espalham de maneira desordenada. Segundo o Inca, existem mais de 20 tipos diferentes da doença. Fazem parte do sistema linfático o timo, o baço, os linfonodos e os nódulos linfáticos, que estão presentes em todo o corpo. No caso do Fuad, o tumor se formou no testículo, mas pode se manifestar em qualquer outra parte.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), este é o nono tipo de câncer mais comum em homens e o décimo em mulheres. Além disso, o número de casos duplicou nos últimos 25 anos, principalmente entre pessoas com mais de 60 anos. Ainda segundo o Inca, não se sabe a causa do aumento. 

Causas

Mello explica que não há causa direta conhecida para o surgimento do Linfoma não-Hodgkin, mas há situações que podem aumentar o risco da doença entre eles: vírus da Epstein-Barr, vírus da hepatite C, HIV e a bactéria Helicobacter pylori, também conhecida como H. pylori. 

Outros fatores que podem estar relacionados ao câncer são pessoas com imunodeficiência, seja de nascença ou induzida por medicamentos, como é o caso de pacientes com doenças reumáticas, transplantados, portadores de lúpus, artrite reumática, por exemplo. 

Um terceiro grupo de risco são aqueles que se expõem a produtos químicos, como herbicidas, inseticidas e outros.

Sintomas e diagnóstico

O oncologista explica que, no geral, o linfoma é uma doença silenciosa, que geralmente é diagnosticada em estágio avançado a partir da percepção do inchaço nos linfonodos, ou gânglios, do pescoço, axilas ou virilha, o que popularmente é chamado de “íngua”. Ao procurar um médico, este pode solicitar exames como biópsias do linfonodo ou da medula óssea, hemograma e de imagens, como Pet Scan. 

Os pacientes podem apresentar sintomas como cansaço, suor noturno excessivo, febre, coceira na pele e perda de peso sem causa aparente.

“Existem algumas classificações da Organização Mundial de Saúde que vão classificar esses linfomas em indolentes, que são aqueles que progridem lentamente, respondem bem ao tratamento e, muitas vezes, são curáveis, e outros mais agressivos, que desenvolvem rápido e não respondem à quimioterapia nem nada”, explica Mello.

Tratamento 

O tratamento para esse tipo de câncer pode variar de acordo com o estágio em que a doença se encontra e das condições do paciente. Entre as opções estão a quimioterapia, a radioterapia e a associação de imunoterapia e quimioterapia. Em casos extremos os médicos podem recorrer ao transplante de células tronco. 

Segundo Mello, a depender do tratamento, pode trazer sequelas ao organismo do paciente como insuficiência cardíaca, arritmia e infecções devido a baixa das defesas. Mais raros, mas também possíveis, é o desenvolvimento de mielodisplasia e de leucemia aguda, decorrentes de lesão da medula óssea por certos agentes quimioterápicos. 

“Basicamente é uma doença que tem uma certa prevalência e o tratamento, via de regra, obtém êxito. Alguns a gente trata com a quimioterapia e rádio, são poucos que vão para o transplante. Diria que a taxa de sucesso no tratamento está em torno de 60 a 70%”, estima Mello.

Izabella Caixeta - EM
IC
postado em 26/03/2025 20:27
x