
Documentos obtidos pelo The New York Times revelam que a administração do presidente Donald Trump pretende encerrar o apoio financeiro à organização Aliança Mundial para Vacinas (Gavi), responsável pela compra de vacinas essenciais para crianças em países em desenvolvimento. A planilha à qual o jornal norte-americano teve acesso detalha os projetos de ajuda externa que serão encerrados e aqueles que devem continuar. Algumas doações serão mantidas — caso de medicamentos para tratar HIV e tuberculose, além de ajuda alimentar para nações em guerra civil ou vítimas de desastres naturais. Porém, serão suspensas as ações de imunizantes e de malária, entre outras.
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"O apoio dos Estados Unidos para a Gavi é vital", reagiu, pelo X, o perfil oficial da Aliança Mundial para Vacinas, uma parceria público-privada idealizada pela Fundação Bill e Melinda Gates. "Com o apoio dos Estados Unidos, podemos salvar mais de 8 milhões de vidas nos próximos cinco anos e dar a milhões de crianças uma chance melhor de um futuro saudável e próspero."
O documento detalha os cortes da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), que devem reduzir em US$ 40 bilhões os gastos anuais. Um porta-voz do Departamento de Estado afirmou ao The New York Times que as rescisões dos programas de auxílio foram decididas por Marco Antonio Rubio, secretário de Estado norte-americano, segundo o qual algumas ações seriam "inconsistentes com o interesse nacional ou as prioridades da política da agência".
Segundo o jornal, como alguns programas, como o de HIV e vacinação, são alocados pelo Congresso, não está claro se a administração Trump tem poder legal para encerrá-los. Provavelmente, o governo enfrentará uma batalha judicial.
Explosão de casos
Artigo publicado ontem na revista The Lancet calculou que poderão haver entre 4,4 milhões a 10,8 milhões de novas infecções por HIV nos próximos cinco anos em países de renda baixa e média, caso os cortes na ajuda propostos pelos principais países doadores, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido, não sejam mitigados. Além disso, o estudo estima entre 770 mil e 2,9 milhões de mortes relacionadas à Aids em crianças e adultos até 2030.
O maior impacto dos potenciais cortes de financiamento pode ser na África Subsaariana e entre populações vulneráveis, incluindo pessoas que injetam drogas, profissionais do sexo, homens que fazem sexo com homens e crianças. Desde 2015, doadores internacionais contribuíram com aproximadamente 40% de todo o financiamento de ações de combate ao HIV nos países de baixa e média renda. Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha e Holanda respondem por mais de 90% do orçamento internacional.
Todos esses países, porém, anunciaram recentemente planos de cortes significativos, uma redução projetada de 24% até 2026. Somente o governo Trump, maior contribuinte para a ajuda externa, pausou todos os repasses em 20 de janeiro, para uma avaliação de 90 dias. "É imperativo garantir financiamento sustentável e evitar o ressurgimento da epidemia de HIV, que pode ter consequências devastadoras, não apenas em regiões como a África Subsaariana, mas globalmente", comentou Debra ten Brink coautora do artigo publicado na The Lancet e pesquisadora do Instituto Burnet, na Austrália.
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