CÉREBRO

Pesquisa revela mecanismo cerebral que ajuda a superar o medo

Cientistas descobrem que o cérebro aprende a suprimir respostas instintivas de medo na aprendizagem animal

Corte coronal do cérebro mostrando projeções de diferentes áreas visuais no córtex cerebral para o núcleo geniculado ventrolateral (vLGN). Essas vias são parte do circuito identificado como mediador da supressão de respostas instintivas de medo -  (crédito: Centro de Bem-estar Sainsbury)
Corte coronal do cérebro mostrando projeções de diferentes áreas visuais no córtex cerebral para o núcleo geniculado ventrolateral (vLGN). Essas vias são parte do circuito identificado como mediador da supressão de respostas instintivas de medo - (crédito: Centro de Bem-estar Sainsbury)

Pesquisadores do Sainsbury Wellcome Centre (SWC) publicaram um estudo, nesta quinta (6/2), na revista Science, que revela os mecanismos cerebrais utilizados pelos animais na superação de medos instintivos. Testado em camundongos, o estudo pode implicar o desenvolvimento de terapias para transtornos relacionados ao medo, como fobias, ansiedade e estresse pós-traumático. 

Liderada pela médica Sara Mederos e pela professora Sonja Hofer, a equipe de pesquisa mapeou como o cérebro aprende a suprimir respostas e ameaças percebidas, que se mostram inofensivas ao longo do tempo. 

Sara explicou à Science que os humanos nascem com reações instintivas de medo, como respostas a ruídos altos ou objetos que se aproximam rapidamente. "No entanto, podemos anular essas respostas instintivas por meio da experiência – como crianças aprendendo a gostar de fogos de artifício em vez de temer os estrondos altos. Queríamos entender os mecanismos cerebrais que fundamentam essas formas de aprendizado."

Em uma abordagem experimental, os camundongos foram apresentados a uma sombra em expansão que imitava um predador aéreo em aproximação. Inicialmente, eles buscavam abrigo ao se depararem com a ameaça visual, mas a exposição repetida sem perigo real resultou em uma calma dos animais. Isso forneceu aos pesquisadores um modelo de estudo sobre a supressão de respostas de medo.

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Baseado em trabalhos anteriores, a equipe tinha ciência que uma área do cérebro chamada núcleo geniculado ventrolateral (vLGN) poderia suprimir reações de medo quando ativa, e era capaz de rastrear o conhecimento de experiências anteriores de ameaça. O vLGN também recebe estímulos de áreas visuais no córtex cerebral.

O estudo revelou que regiões específicas do córtex visual mostraram-se essenciais para o processo de aprendizagem, e o vLGN armazena essas memórias induzidas pela aprendizagem. Uma vez que os animais aprenderam a parar de escapar, o córtex cerebral não era mais utilizado. 

Mecanismos celulares e moleculares por trás do processo ocorrem por meio do aumento da atividade neural, desencadeados pela liberação de endocanabinóides – moléculas mensageiras internas do cérebro conhecidas por regular o humor e a memória. Essa liberação diminui a entrada dos neurônios vLGN, o que suprime as respostas de medo.

Os pesquisadores ressaltam que o estudo pode ajudar no avanço da compreensão do que está errado no cérebro quando a regulação da resposta ao medo é prejudicada em condições como fobias. Embora a reação instintiva humana de medo a predadores não seja tão relevante, a via cerebral registrada nos camundongos também existe nos seres humanos.

 

Bianca Lucca
postado em 06/02/2025 19:14
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