CELEBRAÇÃO DA VIDA

Dona Epifânia Maria de Jesus completa, hoje (7/4), 108 anos de amor à vida

Baiana de Correntina, Dona Pifa é testemunha viva de parte da história do Brasil. Ao lado do marido, ela presenciou a inauguração de Goiânia e, posteriormente, a de Brasília

 04/04/2025 Bruna Gaston CB/DA Press. Senhora de 108 anos, Epifâmia Maria de Jesus Mendes e sua filha Eunice
       -  (crédito: Fotos: Bruna Gaston CB/DA Press)
04/04/2025 Bruna Gaston CB/DA Press. Senhora de 108 anos, Epifâmia Maria de Jesus Mendes e sua filha Eunice - (crédito: Fotos: Bruna Gaston CB/DA Press)

A moradora de Sobradinho 2, Epifânia Maria de Jesus Mendes, mais conhecida como vovó Pifa, celebra seus 108 anos de vida hoje. Com uma trajetória dedicada à família e uma paixão incondicional pela música, Dona Epifânia é um exemplo vivo de alegria pela vida. Natural de Correntina, na Bahia, ela conta histórias que remontam grandes eventos do Brasil no século passado, incluindo sua presença na inauguração de Goiânia e, posteriormente, de Brasília.

Dona Epifânia nasceu no dia 7 de abril de 1917. Em 1935, casada e com dois filhos, acompanhou seu marido e uma tropa de baianos em uma longa jornada de 728,2 km de jegue até Goiânia, cidade que estava sendo inaugurada naquele ano. Ainda assim, ela não esconde a alegria com que encara os desafios e as adversidades. "Hoje, eu só sou alegre. Eu já lutei muito. Lavava, passava, cozinhava, cuidava dos filhos", conta.

Em 1956, o marido de Dona Epifânia, Paulo Mendes, foi convocado para trabalhar na construção de Brasília. Para ela, essa foi uma das melhores decisões que tomaram. Na capital federal, viveram na Cidade Livre, um dos primeiros assentamentos que surgiram com a chegada dos operários responsáveis pela construção da cidade.

 

  • entrevista com dona Epifânia, uma senhora de 108 anos.
    entrevista com dona Epifânia, uma senhora de 108 anos. Bruna Gaston/CB
  •  Aos 104 anos, a idosa entrou para o livro dos recordes com a mulher mais velha do mundo a fazer uma tatuagem
    Aos 104 anos, a idosa entrou para o livro dos recordes com a mulher mais velha do mundo a fazer uma tatuagem Bruna Gaston CB/DA Press
  •  04/04/2025 Bruna Gaston CB/DA Press. Senhora de 108 anos, Epifâmia Maria de Jesus Mendes e sua filha Eunice
    04/04/2025 Bruna Gaston CB/DA Press. Senhora de 108 anos, Epifâmia Maria de Jesus Mendes e sua filha Eunice Bruna Gaston CB/DA Press
  •  Com a ajuda dos netos, Dona Pifa realizou o sonho de  fazer a primeira tatuagem aos 90 anos de idade
    Com a ajuda dos netos, Dona Pifa realizou o sonho de fazer a primeira tatuagem aos 90 anos de idade Bruna Gaston CB/DA Press

Eunice Mendes, filha viva mais nova de Dona Epifânia, de 72 anos, lembra com carinho dos primeiros tempos em Brasília. "O governo dava uma casa de madeira para os candangos. Todo mundo trabalhava, até as crianças. Na época da ditadura, nós não podíamos falar em política dentro de casa", diz Eunice.

A adaptação não foi fácil. "Muita poeira quando chegamos em Brasília. Era muito difícil. O povo todo construindo, muito barulho de máquina. A gente não tinha conforto", recorda.

Dona Epifânia não só ajudou a construir um lar, mas também formou uma grande família. Com 14 filhos, 39 netos, 44 bisnetos e 10 tataranetos, ela deixou um legado de afeto e força. Embora tenha perdido 9 filhos ao longo da vida, a família permanece unida e continua a cuidar dela com carinho e dedicação. Eunice é quem cuida da mãe atualmente, mantendo a mesma devoção e carinho que Dona Epifânia sempre demonstrou. "Cuidar da minha mãe é um privilégio. São poucos os que podem envelhecer ao lado dos pais. É uma satisfação muito grande. Eu amo cuidar da minha mãe. Eu cuido com excelência, por mais que esteja ficando cada vez mais difícil".

Além de ser uma mulher de família, Dona Epifânia também se destacou por sua paixão pela música e pela poesia. Mesmo analfabeta, sempre teve uma forte ligação com as artes, especialmente com a música. "Eu sou viciada em música", afirmou. Ao longo da entrevista ao Correio, Dona Epifânia recitou versos de poesias e até cantou. Seu amor pela música a levou a gravar duas canções, com o apoio da família.

Livro dos recordes

Um dos marcos mais notáveis na vida de Dona Epifânia foi sua entrada no Guinness Book, o livro dos recordes, como a mulher mais velha do mundo a fazer uma tatuagem. Com quatro tatuagens, realizadas aos 90, 98, 101 e 104 anos, ela se tornou uma sensação mundial. Sua última tatuagem, feita aos 104 anos, foi uma chave dourada, simbolizando o fechamento com chave de ouro dessa fase.

A decisão de fazer a tatuagem foi mais uma maneira de celebrar a vida, de afirmar sua independência e sua vontade de continuar experimentando novas coisas, mesmo na velhice. "Eu sempre quis fazer tatuagens, mas na minha época não podia, era visto como algo feio. Meus netos me ajudaram a realizar esse sonho".

Idade avançada

Atualmente, Dona Epifânia enfrenta desafios ligados à sua saúde. Embora tenha vivido uma vida plena e repleta de alegrias, os sinais da idade começaram a aparecer. Ela apresenta agora traços de demência, uma condição que afeta a capacidade mental, a memória e o comportamento. Apesar disso, seu espírito permanece alegre, como ela mesma diz: "Eu sou a Pifa que não pifa".

Sua filha Eunice, que cuida dela com carinho, observa as dificuldades que vêm com o envelhecimento. "Ela está cada vez mais difícil de cuidar, mas é uma honra ter minha mãe ao meu lado", revela Eunice.

Apesar de não ter praticado muitas atividades físicas ou seguido uma alimentação saudável, Dona Epifânia acredita que a chave para sua longevidade foi a alegria de viver. "Eu saía de manhã e voltava de noite. Eu dançava forró, eu cantava. Eu era muito querida por toda a galera", lembra com saudade.

Eunice, por sua vez, destaca a sociabilidade e o amor pela companhia das pessoas como um fator fundamental para a vida longa de sua mãe. "Ela sempre foi de multidão, de muita amizade. Gosta de ter a casa cheia", sublinha Eunice. Aos 108 anos, ela continua a inspirar a todos com sua história de vida, que se entrelaça com a história de Brasília.

*Estagiária sob a supervisão de Verônica Soares

 


postado em 07/04/2025 06:00 / atualizado em 07/04/2025 06:31
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